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#03 - fora do script| “Oxe, e quem é Vanessa?”

  • Foto do escritor: redacaopautalocal
    redacaopautalocal
  • 31 de ago.
  • 2 min de leitura

Por Susana Barros*


Costumo usar Caetano Veloso como referência. Identifico-me com suas crenças e valores e se tenho que lidar com algum assunto sério, polêmico ou envolto num certo tabu, me pergunto antes como Caetano reagiria se estivesse em meu lugar.

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FOTO: FAUSTO CANDELARIA/ AgNews

Dia desses, no entanto, ele subiu o sarrafo a um nível que vai ficar difícil de acompanhar. Acontece que seu carro foi parado numa blitz e o policial de trânsito, ao perceber que o artista estava no veículo, começou a filmar para as redes sociais e pediu, inclusive, para dar um beijo nas bochechas do cantor. Caetano, sempre muito simpático, concordou com tudo aquilo e pareceu até estar satisfeito com o efeito que causou.


Desculpa, Caetano, mas dessa vez vai ser complicado seguir seus passos, se tenho dias em que evito sair na rua só para não ter que cumprimentar os vizinhos.


E deu pior pra mim porque inventei de morar numa comunidade onde todos se conhecem e, consequentemente, todos se saúdam. Tanto, que o que não falta é gente sentando-se na calçada para dar ‘boa tarde’ a quem passa. Vez por outra estas mesmas pessoas chamam um andante para conversar, com o intuito de fortalecer os laços afetivos ou compartilhar informações do dia a dia.


Da minha parte, vou pelo caminho mais longo, debaixo do sol ou olhando para o chão a fim de evitar o contato visual e assim não ter que me dar ao trabalho de cumprimentar. E eu bem que poderia dizer que é acanhamento ou matutice minha, mas é falta de paciência e educação mesmo.


Estou daquelas que fecha as janelas e apaga as luzes para fingir que não está em casa; que está sempre com um livro ou um fone de ouvidos para não dar margem para estranhos puxarem papo; daquelas que demora um tempão para interagir nas redes sociais e que sente taquicardia quando o telefone toca.


Com o passar do tempo também dei para não suportar lugares cheios de gente ou muito barulhentos; e a ter tolerância zero com certas pessoas e situações. E logo fecho a cara, respondo as perguntas com ‘uhum’ ou ‘é, talvez’ e vou embora o mais rápido possível.


Mas é certo que a intensidade da chatice varia a depender da lua, e há momentos em que nem me incomodo de fazer um novo amigo. Fico sorridente, dou ‘bom dia’ para o sapateiro e tenho até vontade de jogar no bicho para conversar com o bicheiro.


E, no entanto, quando sobra simpatia, falha a memória. Pois num desses dias de bom humor, chega uma moça na academia me chamando pelo nome e perguntando se eu me lembrava dela. Como eu não fazia ideia de quem se tratava, tive que ser sincera e responder que eu não estava recordando. Ela então explicou que era a Gilda, amiga da Vanessa, e isso só agravou minha situação porque tive que perguntá-la: “Oxe, e quem é Vanessa?”.



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Susana Barros é macauense, graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Autora do livro “O Sucessor do Rei”, Susana é jornalista, quando empregada; e escritora, quando corajosa.

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